domingo, 29 de junho de 2014

Cupido, cupins e afins, de Aline Diedrich

A convidada de hoje é assessora de comunicação e marketing Aline Diedrich. A gaúcha de 24 anos, escritora nas poucas horas vagas, diz que seus personagens não são perfeitos e que ela escreve sobre características comuns de pessoas como ela ou nós, descrevendo os entusiasmos, sonhos, acertos, medos, atrevimentos e, principalmente, defeitos. 
Quem quiser dar uma conferida é só dar uma navegada em seu blogue: Um brinde às cores, aos amores e ao preto do céu.


Cupido, cupins e afins

Nem era questão de ser certo ou errado. Mas de simplesmente ser.
Um carro velho que emitia muito monóxido de carbono. Velocidade abaixo do permitido naquela via rápida. Ainda ouvia fitas de um velho rock and roll. Óculos escuros para evitar o sol de frente no final da tarde. Cabelos que balançavam com o vento gelado do inverno. Finalmente noite para libertar a energia acumulada o dia todo como se fosse bateria recarregável. A pista, uma boca bem desenhada, olhar sedutor e qualquer corpo bastavam.
Um estúpido – como diria a música – cupido que causava buracos feito cupins na madeira. E uma paixão por alguém depois por algo, para preencher aqueles espaços vazios uma vez por semana. Dez lances de flechas erradas. Mais de mil recordações.
Sintonia fina. Garçom, por favor, dois copos de atitude. As luzes cansavam a visão. O barulho, antes música, depois apenas ensurdecedor, barulho que irritava os tímpanos. Nada tão bonito que não pudesse esquecer, exceto seus sapatos de salto comprados especialmente para ocasiões como aquela, então levados em mãos e largados no mesmo carro – calhambeque – num momento de completo delírio causado pelo etílico das bebidas. Achou-se Cinderela. E foi na busca por achar-se que tantas vezes se perdeu.
Cinderela de profundas olheiras. Cara borrada pela maquiagem comprada na farmácia. Corpo suado. Enfim, só. De frente para ela mesma num reflexo confuso que sugeria ser mais bonito do que realmente era. As fotos espalhadas pelas paredes pareciam sorrir. Pareciam. Acessórios de camelô. Decoração barata. Moradora de apartamento de um canto pobre da cidade.
Ainda assim habitante do mundo e um mundo que habitava nela. Como todo mundo. Amiga dos versos, das poesias tortas, das músicas dançantes, dos cupcakes e dos gostos amargos do amanhecer. Passagem pelo hospício. Mas para quem foi dado o direito de julgar? E como chamar alguém de louco na era do politicamente correto? Pensamentos viraram questionamentos que careciam de respostas para todo o sempre. Despiu-se. Despiu a alma também como um atentado violento ao pudor.
– Louca. Crazy. Crazy. Crazy!
Dizia para si mesma com tapa na cara em frente o espelho.
Transtorno obsessivo compulsivo foi o último diagnóstico. TOC. Toque. Vícios? Possuía muitos. Principalmente os de linguagem.
– Perdoe-me pelos mal conjugados verbos.
Desculpou-se em oração.
E depois, sem fôlego para mais uma dança e cansada por não conseguir parar de pensar, deitou-se. Adormeceu. Sonhou e encontrou um mundo distante do seu. Mesmo assim eloquente. E o relógio mais compulsivo e transtornado então despertou.

E despertou. E despertou...

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