domingo, 15 de junho de 2014

Bullying, o que deveria ter falado, mas nunca falei, de Pamela Dal' Alva

A convidada de hoje é Pamela Dal' Alva, 21 anos, paulista e amante dos animais. Ela está no penúltimo semestre da Faculdade de Fotografia.
Criou o blogue há 4 anos para desabafar as turbulências vividas na época de escola. Hoje, o Era outra vez conta o que ela passa em textos, bilhetes, resenhas e fotografias. 


Bullying, o que deveria ter falado, mas nunca falei

Há 6 anos atrás, eu dizia tchau para minhas amigas que mudaram de colégio após terminar a oitava série.
No primeiro ano do ensino médio, no mesmo colégio, tudo era diferente. Sem nenhuma companhia nas aulas, a razão da minha alegria e risos matutinos era, nos intervalos, a companhia das meninas do outro ano. 
Meu porte e minha estatura eram motivos de piadas, desde muito antes do primeiro ano colegial e depois deste tempo nas aulas de Português, era uma bronca atrás da outra.
Com o passar dos anos, cada dia era pior que o outro. Depois de piadas e zoações típicas, começou o estágio de brincadeiras e tudo acontecia na frente de todo mundo, mas obviamente ninguém encarava como algo sério e nenhuma providência era tomada.  Apesar de tudo, eu não saí da escola. O meu pior erro foi ter ficado calada tanto tempo.
Ai vocês me perguntam: Que tipo de brincadeiras era tão terríveis para eu  tomar providências?
Eu respondo: Eram gozações pelo meu porte e estatura, usar óculos, chamar o cabelo de Bombril ou palha de aço e, a pior de todas, falar que sou adotada. Não que seja ruim ser, mas isto não é coisa que se diga a uma pessoa. Se acharem pouco, faltou citar salgadinho esmagado no estojo, mariposa trancafiada no estojo. Claro que minha paciência foi se esgotando até que em um dia na aula de Educação Física as cadeiras aprenderam a voar e as bolas de futebol e vôlei tomaram outra utilidade.
No último ano, quando achei que nada podia piorar, adivinhem! Pioraram. Foi aí que os vídeos começaram a ser feitos e compartilhados com outras pessoas e com isto as brincadeiras saindo do limite da escola. Na época, alguns alunos achavam um absurdo a diretora não tomar providências, mas, como sempre, nada adiantou.
Todas as provocações aconteceram justo nas aulas de Português, o que só me fez gostar mais ainda das palavras.
Eu sempre gostei de escrever, mas nunca mostrei nada até um dia em que levei meus textos para mostrar as minhas amigas do outro ano. O resultado foi satisfatório, pois me incentivaram a criar um espaço onde eu pudesse, além de divulgar meus textos, ajudar alguém que estivesse passando pelo mesmo problema. Assim criei o meu primeiro blog. Só que, com as divulgações nos grupos do Orkut, acabei sendo, mais uma vez, alvo de piadas.
Porém, não desisti. Continuei escrevendo e compartilhando o que todos não enxergavam e estava ali, de baixo dos seus narizes remelentos.
Em Setembro de 2010, chegou a Feira Cultural da escola, onde cada sala apresenta um determinado tema para outras salas e outras escolas. Tudo estava absolutamente tranquilo até a feira terminar e as aulas voltarem a normalidade.
Lembro-me muito bem que entre os restos de materiais, que sobraram de outras salas e que deixaram para jogar fora, estava um globo grande de isopor que representava a Terra. Como sempre, os alunos pareciam crianças brincando com as coisas quebradas. Eles batiam uns nos outros e como não poderia ser diferente, eu fui o alvo principal. A Terra me atingiu em cheio na cabeça. Na hora o sangue me subiu e perdi totalmente o controle. Eu pareci animes e filmes de artes marciais onde tudo vira luta. Eu reativamente, querendo acertar no joelho, chutei a perna daquele infeliz, mas acertei a canela (ótima mira). Logicamente eu não podia perder a piada e mesmo levando golpes dava altas gargalhadas. Quando dei por mim, tinha levantado e, com o golpe final dado um tapa na cara do infeliz. Ri agora, otário! – Eu disse.
E como em um passe de mágica, ele resolveu fazer justiça e foi o primeiro a querer chamar a diretora. Todo mundo da sala ficou olhando e eu sem saber o que fazer, fiquei na porta parada esperando a diretora.
Depois de horas na direção, tive que assinar aquele tão temido caderno negro. Em questões de segundos a escola inteira soube do acontecimento e vieram fazer perguntas. Acreditem! Até uma professora me perguntou qual foi a sensação.
Fui uma espécie de ídolo por ter o privilégio de fazer o que muitos queriam ter feito, só que não fizeram.
Que a verdade seja dita: Depois daquele tapa, um peso enorme saiu das minhas costas e aí sim as coisas começaram a mudar. Contei para meus pais e eles quiseram aparecer na escola, mas não deixei, pois isso tinha que ser resolvido por mim mesma. Porém, qualquer atitude, qualquer palavra ou até olhar atravessado era para eu contar.  Claro que ainda teve aquela zoação básica como "cuidado com ela" ou "ela vai contar para a diretora" ou "o pai dela vai vir aqui", mas acabei poupando os ouvidos da diretora.
Para mim aquele assunto estava mais do que resolvido e essas "pequenas" zoações não significavam mais nada.

O que eu deveria ter feito foi feito e depois disso me senti diferente.

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5 comentários:

  1. Muito bom, Pâmela! Ela é uma vencedora mesmo, eu também passei por todo esse inferno chamado bullying e nunca pude/consegui revidar como ela fez, mas hoje em dia acho que superei tudo isso e ajudo outras pessoas que passam pelo mesmo que passei.

    http://gotinhasesperanca.blogspot.com.br

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  2. É isso ai Pamela, parabéns pela atitude de não permanecer subjulgada pelo bullying. A reação é a melhor forma de colocar um ponto final nesse tipo de agressão.
    Abraços
    Marilene

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  3. Você foi guerreira mesmo, mas acho que na vida temos que mostrar às pessoas seus limites, não podemos permitir que nos maltratem .Minha filha sempre foi como você , ela nunca permitiu e nunca teve medo dos meninos na esola, mas sinceramente, hoje a violência está tão forte, que tenho até receio da reação das pessoas.
    Bjus
    http://www.elianedelacerda.com

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  4. Excelente,Claudio.

    Assim você divulga blogs amigos.

    Amei.

    Obrigada pela visita e linda quinta.

    Tem post novo no meu blog.


    Beijokas

    Donetzka


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