Certa
vez, ao ir almoçar no local de sempre, uma pessoa, que chegou segundos na
minha frente, entrou no restaurante impedindo outras três de saírem, gerando um
pequeno desconforto para todos, que por falta de espaço se esbarram. Eu, em
vez de entrar, esperei que os saintes passassem pela porta. Não apenas
para ser cortês, mas também porque acredito que quem sai tem preferência, pois
libera espaço para quem entra. Os três me agradeceram gentilmente com um
obrigado sorridente.
Neste
estabelecimento, a gente se serve de imediato e depois vai para mesa, e ao me
servir, reparei melhor na pessoa que tinha gerado a pequena confusão.
Eu não
gosto muito de falar de caraterísticas físicas das pessoas, até porque tenho as
minhas que podem ser consideradas esquisitas por muitos. Porém, esta
pessoa é especial. Ela tem cabelos brancos acinzentados e armados de
tão secos e um nariz pontudo. Usava um sobretudo preto a uma temperatura
de 26º em Porto Alegre e óculos escuros, que não tirou por um segundo. Não dava
para saber se era homem ou mulher. Não usava anéis ou pulseiras. Não consegui
ver se estava com brincos por causa do cabelo. Ao julgar pelas rugas,
que lhe marcam, ela é de muita idade. Não sei se, com esta descrição
que dei, vocês terão a mesma impressão que eu tive.
Pois é!
A grande verdade é que não creio nas bruxas, mas que elas existem,
existem.
Para eu
ficar ainda mais impressionado, ela sentou na mesma ala que eu e ao
alcance dos meus olhos. O meu espanto ainda não tinha acabado, pois, na mulher
que sentou atrás da suposta bruxa, que antes tinha passado despercebida, notei
tamanha feiura jamais vista. E seu acompanhante não ficava atrás. “Talvez
eles tenham pisado na sombra dela”, eu pensei. Fiquei
preocupado: "Será que ela fez isto comigo?" Tá certo que estou bem
longe de ser um Gianechini, mas gosto de como sou.
Enquanto
eu imaginava como descrever tal situação para vocês, dei uma mordida no
bolinho de arroz que adoro. Eca! Que susto. Eu tive que cuspir no guardanapo de
tão ruim que estava. Não consegui engolir um pedacinho sequer. Foi um gosto tão
ruim que não lembro ter provado algo parecido. Aí me apavorei: “Ela lê
pensamentos e mandou um aviso”. E o que é pior, de vez em quando ela olhava para
mim. Eu estava até esperando o momento que ela tiraria a varinha de condão do
bolso e dissesse:
– Qual
é? Vai encarar? – E eu viraria um sapo.
Então
comecei a pensar em tudo que era coisa para confundir a bruxa, na copa do
mundo de 1970, na Shakira, até nas notas ruins que tirei na faculdade. Assim eu
achava que ela não conseguiria invadir meu cérebro e se invadisse não
saberia nada de mais.
Terminei
o almoço e nem olhei para trás, mas ao pagar peguei duas
balinhas brinde de menta e reparei que a moça tinha digitado R$ 0,20 a
mais. Não é pela quantia irrisória, mas sim para entender que eu perguntei o
motivo.
– É R$
0,10 cada balinha – disse ela.
Caramba!
Sempre foi brinde. E logo hoje resolvem cobrar. Isto só pode ser obra da
bruxa – eu pensei. Aí, decidi ir embora antes que ela resolvesse sair junto e
me obrigasse a dar uma volta de vassoura e me jogasse lá de cima sem paraquedas.
Ao sair
do restaurante, cheguei a dar um passo em direção ao caminho habitual, mas
mudei de ideia naquele momento, pois pensei: “Vai que a bruxa conseguiu captar
o meu caminho e armou alguma coisa como um cofre cair de um prédio ou
um chihuahua nervoso morder meu calcanhar”.
Ao
fazer um caminho mais comprido, porém mais seguro, tal como Zé Rodrix em latino
americano, pelo menos eu pensava que sim, levei uma baforada de cigarro na
cara.
“Eta
bruxa poderosa tchê. Será que vou ter que arrumar um contrafeitiço?”
Aí,
bateu o desespero. Eu fiquei preocupado até achar um espelho. Não sou
narcisista e sempre ignoro quando esbarro com um. Porém, justamente desta vez
que eu precisava muito mais do que uma mulher querendo retocar a maquiagem, nem poça d´água apareceu. Até que finalmente encontrei um. “Ufa! Continuo
o mesmo feinho de sempre”.
kkkkkkkkk
ResponderExcluirCausos de um feio neurótico.
Muito bom, super divertido.
{ O POETA E A MADRUGADA }
kkkk Adorei demais sua crônica... A propósito, existem mais coisas do que julga kkkkk
ResponderExcluirEu acredito em bruxas boazinhas!
parabéns querido!
Adorei! Eu, como pagã, praticante de bruxaria, achei bem legal e de bom gosto! Kkkkkkk O estereótipo de bruxa com cabelo seco desgrenhado e narigão sempre me diverte!! Parabéns... :)
ResponderExcluirkkkk Muito bom, meu Deus!
ResponderExcluirMuito bom kkkkkkkkkk rachei de rir
ResponderExcluirOi menino, essa bruxa é diferente das outras?
ResponderExcluirEla usa varinha de condão? Não seria uma vassoura?
Se é uma varinha, quem sabe ela ñ seria uma bruxinha boazinha, uma fada madrinha e seu medo era sem sentido?
Mas que bom que continuas o mesmo brincalhão de sempre!
Muito bom kkkkkk
Bjsss
Oi Claudio, boa noite! Mais uma de suas hilárias escritas...Veja bem, talvez ela fosse uma fada vestida de bruxa, já que muitas vezes as aparecias enganam.
ResponderExcluirBeijos com carinho
Marilene
Olá, Claudio.
ResponderExcluirÓtimo texto; acho que, por mais ficcional que (espero que) tenha sido a tua narrativa, creio que todos nós temos aqueles dias em que a bruxa está solta, o Uruguai que o diga.
Abraço, Claudio.