sábado, 14 de junho de 2014

Coisas do dia a dia e de bruxaria

Certa vez, ao ir almoçar no local de sempre, uma pessoa, que chegou segundos na minha frente, entrou no restaurante impedindo outras três de saírem, gerando um pequeno desconforto para todos, que por falta de espaço se esbarram. Eu, em vez de entrar, esperei que os saintes passassem pela porta.  Não apenas para ser cortês, mas também porque acredito que quem sai tem preferência, pois libera espaço para quem entra. Os três me agradeceram gentilmente com um obrigado sorridente.
Neste estabelecimento, a gente se serve de imediato e depois vai para mesa, e ao me servir, reparei melhor na pessoa que tinha gerado a pequena confusão.
Eu não gosto muito de falar de caraterísticas físicas das pessoas, até porque tenho as minhas que podem ser consideradas esquisitas por muitos. Porém, esta pessoa é especial. Ela tem cabelos brancos acinzentados e armados de tão secos e um nariz pontudo. Usava um sobretudo preto a uma temperatura de 26º em Porto Alegre e óculos escuros, que não tirou por um segundo. Não dava para saber se era homem ou mulher. Não usava anéis ou pulseiras. Não consegui ver se estava com brincos por causa do cabelo. Ao julgar pelas rugas, que lhe marcam,  ela é de muita idade. Não sei se, com esta descrição que dei, vocês terão a mesma impressão que eu tive.
Pois é! A grande verdade é que não creio nas bruxas, mas que elas existem, existem.
Para eu ficar ainda mais impressionado, ela sentou na mesma ala que eu e  ao alcance dos meus olhos. O meu espanto ainda não tinha acabado, pois, na mulher que sentou atrás da suposta bruxa, que antes tinha passado despercebida, notei tamanha feiura jamais vista. E seu acompanhante não ficava atrás. “Talvez eles tenham pisado na sombra dela”, eu pensei. Fiquei preocupado: "Será que ela fez isto comigo?" Tá certo que estou bem longe de ser um Gianechini, mas gosto de como sou.
Enquanto eu imaginava como descrever tal situação para vocês, dei uma mordida no bolinho de arroz que adoro. Eca! Que susto. Eu tive que cuspir no guardanapo de tão ruim que estava. Não consegui engolir um pedacinho sequer. Foi um gosto tão ruim que não lembro ter provado algo parecido. Aí me apavorei: “Ela lê pensamentos e mandou um aviso”. E o que é pior, de vez em quando ela olhava para mim. Eu estava até esperando o momento que ela tiraria a varinha de condão do bolso e dissesse:  
– Qual é? Vai encarar? – E eu viraria um sapo.
Então comecei a pensar em tudo que era coisa para confundir a bruxa, na copa do mundo de 1970, na Shakira, até nas notas ruins que tirei na faculdade. Assim eu achava que ela não conseguiria invadir meu cérebro e se invadisse não saberia nada de mais.
Terminei o almoço e nem olhei para trás, mas ao pagar peguei duas balinhas brinde de menta e reparei que a moça tinha digitado R$ 0,20 a mais. Não é pela quantia irrisória, mas sim para entender que eu perguntei o motivo.
– É R$ 0,10 cada balinha – disse ela.
Caramba! Sempre foi brinde. E logo hoje resolvem cobrar. Isto só pode ser obra da bruxa – eu pensei. Aí, decidi ir embora antes que ela resolvesse sair junto e me obrigasse a dar uma volta de vassoura e me jogasse lá de cima sem paraquedas.
Ao sair do restaurante, cheguei a dar um passo em direção ao caminho habitual, mas mudei de ideia naquele momento, pois pensei: “Vai que a bruxa conseguiu captar o meu caminho e armou alguma coisa como um cofre cair de um prédio ou um chihuahua nervoso morder meu calcanhar”.
Ao fazer um caminho mais comprido, porém mais seguro, tal como Zé Rodrix em latino americano, pelo menos eu pensava que sim, levei uma baforada de cigarro na cara.
“Eta bruxa poderosa tchê. Será que vou ter que arrumar um contrafeitiço?”
Aí, bateu o desespero. Eu fiquei preocupado até achar um espelho. Não sou narcisista e sempre ignoro quando esbarro com um. Porém, justamente desta vez que eu precisava muito mais do que uma mulher querendo retocar a maquiagem, nem poça d´água apareceu. Até que finalmente encontrei um. “Ufa! Continuo o mesmo feinho de sempre”.

8 comentários:

  1. kkkkkkkkk
    Causos de um feio neurótico.
    Muito bom, super divertido.

    { O POETA E A MADRUGADA }

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  2. kkkk Adorei demais sua crônica... A propósito, existem mais coisas do que julga kkkkk
    Eu acredito em bruxas boazinhas!
    parabéns querido!

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  3. Adorei! Eu, como pagã, praticante de bruxaria, achei bem legal e de bom gosto! Kkkkkkk O estereótipo de bruxa com cabelo seco desgrenhado e narigão sempre me diverte!! Parabéns... :)

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  4. Oi menino, essa bruxa é diferente das outras?
    Ela usa varinha de condão? Não seria uma vassoura?
    Se é uma varinha, quem sabe ela ñ seria uma bruxinha boazinha, uma fada madrinha e seu medo era sem sentido?
    Mas que bom que continuas o mesmo brincalhão de sempre!
    Muito bom kkkkkk

    Bjsss

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  5. Oi Claudio, boa noite! Mais uma de suas hilárias escritas...Veja bem, talvez ela fosse uma fada vestida de bruxa, já que muitas vezes as aparecias enganam.
    Beijos com carinho
    Marilene

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  6. Olá, Claudio.
    Ótimo texto; acho que, por mais ficcional que (espero que) tenha sido a tua narrativa, creio que todos nós temos aqueles dias em que a bruxa está solta, o Uruguai que o diga.
    Abraço, Claudio.

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