A convidada de hoje é assessora de comunicação e marketing Aline Diedrich. A gaúcha de 24 anos, escritora nas poucas horas vagas, diz que seus personagens não são perfeitos e que ela
escreve sobre características comuns de pessoas como ela ou nós, descrevendo os
entusiasmos, sonhos, acertos, medos, atrevimentos e, principalmente, defeitos.
Quem quiser dar uma conferida é só dar uma navegada em seu blogue: Um brinde às cores, aos amores e ao preto do céu.
Cupido, cupins e afins
Nem era questão de ser certo ou errado. Mas de simplesmente ser.
Um carro velho que emitia muito monóxido de carbono. Velocidade abaixo do permitido naquela via rápida. Ainda ouvia fitas de um velho rock and roll. Óculos escuros para evitar o sol de frente no final da tarde. Cabelos que balançavam com o vento gelado do inverno. Finalmente noite para libertar a energia acumulada o dia todo como se fosse bateria recarregável. A pista, uma boca bem desenhada, olhar sedutor e qualquer corpo bastavam.
Um estúpido – como diria a música – cupido que causava buracos feito
cupins na madeira. E uma paixão por alguém depois por algo, para preencher
aqueles espaços vazios uma vez por semana. Dez lances de flechas erradas. Mais
de mil recordações.
Sintonia fina. Garçom, por favor, dois copos de atitude. As luzes
cansavam a visão. O barulho, antes música, depois apenas ensurdecedor, barulho
que irritava os tímpanos. Nada tão bonito que não pudesse esquecer, exceto seus
sapatos de salto comprados especialmente para ocasiões como aquela, então
levados em mãos e largados no mesmo carro – calhambeque – num momento de
completo delírio causado pelo etílico das bebidas. Achou-se Cinderela. E foi na
busca por achar-se que tantas vezes se perdeu.
Cinderela de profundas olheiras. Cara borrada pela maquiagem comprada
na farmácia. Corpo suado. Enfim, só. De frente para ela mesma num reflexo
confuso que sugeria ser mais bonito do que realmente era. As fotos espalhadas
pelas paredes pareciam sorrir. Pareciam. Acessórios de camelô. Decoração
barata. Moradora de apartamento de um canto pobre da cidade.
Ainda assim habitante do mundo e um mundo que habitava nela. Como todo
mundo. Amiga dos versos, das poesias tortas, das músicas dançantes, dos
cupcakes e dos gostos amargos do amanhecer. Passagem pelo hospício. Mas para
quem foi dado o direito de julgar? E como chamar alguém de louco na era do
politicamente correto? Pensamentos viraram questionamentos que careciam de
respostas para todo o sempre. Despiu-se. Despiu a alma também como um atentado
violento ao pudor.
– Louca. Crazy. Crazy. Crazy!
Dizia para si mesma com tapa na cara em frente o espelho.
Transtorno obsessivo compulsivo foi o último diagnóstico. TOC. Toque.
Vícios? Possuía muitos. Principalmente os de linguagem.
– Perdoe-me pelos mal conjugados verbos.
Desculpou-se em oração.
E depois, sem fôlego para mais uma dança e cansada por não conseguir
parar de pensar, deitou-se. Adormeceu. Sonhou e encontrou um mundo distante do
seu. Mesmo assim eloquente. E o relógio mais compulsivo e transtornado então
despertou.
Adorei!
ResponderExcluirLindo,.