A convidada desta semana é a simpática autora do blogue Não tenho pressa, Karla Cunha. Mineira, 23 anos, é cantora de chuveiro, atriz de frente ao espelho,
leitora de bula de remédio, psicóloga de amigas bêbadas e parceira pra coisas
idiotas. Ela acredita que blogue é mais barato que terapia. Sua filosofia é que algumas
coisas podem ser realmente terapêuticas, e segue o lema “que a gente só precisa
se deixar levar”.
Afastou a cortina de sua janela e contemplou o céu cinza. Por uma
pequena abertura sentiu o vento frio. Nada de muito sol, nada de muito frio,
assim como as previsões do noticiário. Vestiu uma calça jeans confortável e uma
jaqueta que era o suficiente para proteger do vento e manter uma temperatura
agradável junto a seu corpo. Saiu para o trabalho e, no meio do dia, tudo já
estava diferente. O sol conseguiu se mostrar por entre as nuvens acinzentadas,
que já tinham recuado. O céu ficou azul e ela começou a sentir que estava com
roupas demais para esse calor de verão. Desejou ter saído apenas com um vestido
leve.
Em outra oportunidade, ela estava de
vestido. Um vestido especial que acentuava suas curvas. Era azul, a cor que ele
mais gostava. Ele, o alvo de sua produção que incluía maquiagem e salto alto,
este último guardado apenas para ocasiões especiais. O combinado era comemorar
o aniversário de seu namorado apenas a noite, depois do expediente, porém decidiu
surpreendê-lo com um presente na hora do almoço em seu escritório. Tinha
certeza que passagens para férias na Itália seriam uma grande surpresa. E foi.
Para ela. Ela, que borrou toda a sua maquiagem ao sair pelos corredores
chorando. Tentando não chamar atenção depois de ver, pela porta entreaberta,
seu namorado aos beijos com uma outra mulher. Uma loira, que ela sequer sabia
quem era, mas sabia que, por algum motivo, estava ganhando os beijos e os
carinhos que ela tanto amava.
Entre diversos motivos, esse não foi seu
único relacionamento que deu errado. Outros namorados vieram, mas,
relacionamentos familiares e amizades também estavam cheios de engano. Perdeu a
conta de quantas vezes acreditou que aquele segredo ficaria apenas entre ela e
sua confidente, e de repente viu sua intimidade sendo comentada nos corredores,
nos almoços de domingo. Ou de quando um grande amigo simplesmente ia embora com
falsas promessas de que mandaria notícias. Talvez ele não se importasse tanto
assim. A reciprocidade não era uma regra, afinal. Era quase sempre a exceção.
Seus dias estavam cheios de enganos, além
desses. Enganava-se com as promoções da sua operadora de celular e internet e
descobria que a televisão anunciava os melhores preços que não eram, na
verdade, tão baixos. Enganava-se com as dietas das capas de revista que,
afinal, não eram tão milagrosas assim. Enganava-se com a marca do refrigerante,
do macarrão instantâneo e depois se pegava sempre tentando enganar a balança.
Ela se enganou quando pensou que poderia
abraçar o mundo. Ou quando pensou que poderia simplesmente desistir dele e
deixar para lá, como coisas guardadas em uma gaveta que ninguém abre.
Enganou-se ao querer amar quando seu coração não batia mais rápido, até
aprender que não era possível exigir que ele fizesse isso. Ou então, ao
contrário, fazer com que ele não acelerasse porque havia escolhido não amar.
Enganou-se ao querer seguir as regras impostas pelos outros, quando somente ela
era confrontada por sua consciência ao por a cabeça em seu travesseiro.
Então decidiu seguir uma linha traçada por
si mesma. Consciente de cada passo, decidiu pesar suas decisões com os quilos a
mais que a sinceridade acrescentava em forma de consequências. Ela poderia ser,
repetidas vezes, enganada pelo clima, pelas promoções da televisão e pelas
capas de revista. Por mais que doesse, ela também poderia ser enganada pelas
pessoas que amava. Sobre esses, não havia garantias. No entanto, não seria mais
enganada por si mesma. E, isso sim, estava somente em suas mãos.
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Me encantei com o texto em si e em como ele foi escrito. Muito bom!
ResponderExcluirParabéns Karla pela criação.
Que texto lindo. a respeito de tudo aquilo que não vem de nós, não podemos ter controle, podemos ser enganado pelos outros, enganar os outros, mas o pior é sempre mentir pra si mesmo. Ainda bem que ela percebeu.
ResponderExcluireraoutravezamor.blogspot.com
semprovas.blogspot.com
Eu também me encantei com o texto quando a Karla me enviou.
ResponderExcluirQue lindo.
ResponderExcluirGostei!
ResponderExcluirMuito bom.
Amei
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