sábado, 27 de setembro de 2014

Uma cueca para Poseidon

Fez uma semana muito quente. Eu e minha namorada fomos à praia.
O sábado foi alternado entre sol e chuva, mas o domingo fez um lindo dia de sol. Porém, acordamos tarde.
Como havia muita coisa para fazer não perdi tempo escolhendo roupas, até mesmo, porque acho que isto é coisa de mulher. Então, abri a mala de roupas que fica na praia e peguei uma cueca marrom, mais para cor de burro quando foge. É uma corzinha que eu não curto muito. Nem sei como fui comprar aquilo. Deve ter vindo em um pacote que se compra em lojas populares. Daqueles bem baratinhos que não dá para escolher as cores porque vem com o envelope lacrado com umas cinco cuecas e que sempre tem uma cor que a gente não gosta.
Bom, vesti a tal e depois meu calção e fui fazer as atividades que me esperavam, evidentemente, após o café da manhã com minha amada.
Enquanto eu fazia o meu trabalho, percebi que o elástico da cueca havia cedido e que esta seria a última vez que eu a usaria porque a mesma não dava mais condições de uso. A preguiça de trocá-la é que foi o problema, e depois, além de eu estar em casa e poder dar a puxadinha básica ela prendia na cintura de vez em quando.
Tudo estava bem quando a minha querida namorada resolveu dar uma volta na beira da praia e me fez um convite meio que intimativo. Eu tive que ir.
O fato é que como a danada da cueca estava presa eu não me dei conta do defeito e fui do jeito que estava.
A situação estava tranquila até que a cuequinha resolveu dar o ar da sua graça e quis obedecer a lei da gravidade.
Quando ela descia, eu dava uma puxadinha. Discretamente colocava a mão por trás entre as minhas costas e o calção e a colocava no lugar. Porém, ao chegar à beira da praia, que estava lotada, toda vez que eu ia dar uma arrumadinha parecia que tinha alguém olhando pronto para dar risada ou dizer:
– Noooosa! Que feio.
Com isso, eu abandonei a puxadinha e me dei por vencido pela descoberta de Isaac Newton.
O ruim é que a cretina cuequenta resolveu descer demais e foi abaixo da poupa da busanfa ficando muito desconfortável. Para ajeitá-la, do jeito que estava não poderia ser de uma forma tão discreta. Eu teria que meter a mão lá em baixo mesmo e puxar. Isto chamaria muita atenção, então não fiz.
Eu poderia entrar no mar para arrumar, mas temi que com o peso da desgraçada molhada a situação ficaria pior.
Ao ver minha agonia, minha namorada me questionou e eu tive que contar. Aí, ela teve a brilhante ideia:
– Eu puxo para ti.
– Mas farás isto?
– Simples! Metendo as duas mãos lá dentro e puxando.
Era uma situação inusitada e embaraçosa. Ela me abraçou e colocou as mãos por dentro do meu calção, mas vinha uma família com crianças e mulheres que ficaram olhando com desaprovação. Algumas pessoas até fizeram o tradicional “não” com a cabeça. Apesar dos olhares desaprovadores, eles poderiam passar batidos se não fosse o que minha namorada falou:
– Calma gente! Eu só quero pegar a cueca dele.
Foi um alvoroço geral. Imagina o que passou pela cabeça daquela gente. Algumas mães taparam os olhos das crianças, outras os ouvidos e alguns os seus próprios olhos. Os menos carolas meteram o olhão mesmo para ver no que ia dar.
Eu disse:
– Vamos embora logo para não sermos linchados.
Saímos rapidamente dali, com aquele pano pendurado no meio das minhas pernas, dando passos cadenciados para eu não cair.
Quando o desespero começou a bater e a minha namorada morrer de rir, a vez de ter uma brilhante ideia foi minha.
– Vou tirá-la – disse eu.
– Como? – perguntou ela na maior gargalhada.
– Pense em um gênio: Eu!  Vou dar um presente para Poseidon, o Deus do mar.
Entrei no mar, me agachei, tirei uma perna do calção seguido da cueca. Agora era só colocar de volta a perna do calção e puxar a cueca por baixo da outra perna. Muito fácil. Fácil mesmo, se não fosse pelo vagalhão que me pegou de surpresa e fez com que eu virasse várias cambalhotas mostrando aquilo que mamãe passou talquinho.
O que poderia ficar pior, ficou. O meu calção foi parar na areia e a cueca sei lá onde. Vai ver o Poseidon veio pegar o presente que eu havia dito que daria.
Enquanto minha quase ex-namorada virava um croquete rolando na areia de tanto dar risada eu pensava se valia pena tomar dois processos, um por atentado ao pudor e outro pela Lei Maria da Penha. Quando eu estava quase decidindo, uma senhora, de uns 80 anos, pegou o meu calção, trouxe até mim e disse:
– Toma! Isto acontece. Uma vez aconteceu com o meu falecido marido.
Como eu já tinha pagado o mico mesmo, levantei da água mais nu que Adão no paraíso e vesti o calção. Sorri para a senhora e agradeci.
Achando que já tinha passado por tudo para um Domingo e ela me deu um tapa na bunda e disse:
– De nada, bundinha gostosa.

Esta é uma estória de quase ficção. Qualquer semelhança é pura quase coincidência.

Montagem: Letícia Spezia
Idealização: Opróprio.

4 comentários:

  1. Adorei de paixão esse conto!
    rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
    Que senhora de 80 anos avançada!Muito legal mesmo, pois os mais jovens recriminando e ela numa boa só ajudou e ainda elogiou!!!!!!rsrsrsrsr
    Um barato essa velhinha!!!!!
    Quero ficar assim......rsrsrsrsrs
    bjus e bom final de semana!
    http://www.elianedelacerda.com

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  2. Eita Claudio, só você mesmo para me fazer rir aos montes.Suas histórias são sempre hilárias.
    Adorei o que a velhinha fez contrariando todo o povo mais jovens.
    Beijos com carinho
    Marilene

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