sábado, 22 de novembro de 2014

A Moça, as mesas e os guardanapos


Rogério é um cara tímido, na verdade, terrivelmente tímido. Foi convidado para participar de uma festa de aniversário e sentou-se sozinho. O salão está lotado. A única mesa que tem lugares vagos é a dele. Para sua sorte, ou seu azar, não chega mais ninguém. Parece que todos que confirmaram presença já chegaram. Sua única companhia é o garçom que serve sua mesa. Assim mesmo, quando aparece, pois Rogério tem vergonha de chamar.
Próximo da meia-noite, uma bela moça, ao contrário da Cinderela, veio ao encontro das doze badaladas. Todos pararam para admirar tal beleza exuberante que floriu o ambiente, inclusive Rogério, que embora introvertido, não é cego. Discretamente, ele estica o pescoço para uma melhor visão.
           Ela olha para um lado, para outro, dá alguns passos, esquiva-se de alguns approaches, sorri para algumas gracinhas e é gentilmente abordada pela promotora da festa. Esta explica que a única mesa com lugares disponíveis é justamente a do Rogério. Ambas se aproximam, e a promotora explicando que não há mais lugares pergunta se ele se importa. Mesmo com a batida de seus joelhos sincronizada com a dos dentes, ele consegue sorrir e permite a companhia.
– Está com frio? – ela pergunta.
– Um pouco.
– Meu nome é Luana e o seu?
– Rogério.
– O que faz?
– Sou analista de finanças de uma transportadora.
– Legal. Trabalho com comércio exterior.
A noite vai passando e Rogério consegue se soltar um pouco mais, sorri, dá gargalhadas e até dança. Para quem queria ir embora mesmo antes de chegar, a noite está rendendo. Porém, como tudo na vida passa, principalmente uma noite maravilhosa, Luana levanta-se para ir embora. Rogério oferece uma carona, mas a linda princesa veio com a sua carruagem, quer dizer, seu carro. Ela olha para ele com ternura, beija-o no rosto e escreve no único objeto sobre a mesa, um guardanapo. Dá três passos para trás, mais um sorriso, vira-se e sai devagarinho transformando o trajeto da mesa até a saída numa passarela. Somente quando ela sai do seu campo de visão é que Rogério consegue ler o que estava escrito:
– Rogério: Adorei te conhecer.
Ela também escreveu o número do telefone. Imediatamente ele passa o número para a agenda de seu celular, mas mesmo assim, guarda o papel como relíquia e só pensa em dormir feliz.
O que ele não percebeu foi que seu amigo, ou melhor, amigo da onça, Júlio André, ficou observando a noite toda. Rogério mal se levanta para ir embora e Júlio André o aborda.
– Ai moleque, que sorte a sua. Um mulherão daqueles na tua mesa.
– É, você viu?
– E como não? Quem não conhece a Luana? Tremenda gostosa ai.
– Ela me deu o telefone.
– É mesmo?
– Sim. Escreveu no guardanapo.
– Mas você não vai pega ela.
– Pegar? Sair com ela, você quer dizer?
– Tanto faz, ela não vai querer.
– Isto é ela quem decide, não acha?
– Você vai ver. Eu sei onde ela almoça e amanhã eu vou roubá-la de você. Quer apostar?
– Não. Mesmo sabendo que vai perder, este tipo de coisa não se aposta.
– Então vai ver.
No outro dia, Júlio André faz tocaia no restaurante de costume da Luana, se apossa de uma mesa e espanta todos os candidatos que lhe fariam companhia. Para quem se aproxima, ele diz:
– Ocupada. Ta ocupada. Estou esperando alguém.
Quando Luana entra no recinto, ele a chama.
– Luana! Luana! Aqui tem lugar.
De tanta insistência ela senta.
– E ai?  Tudo bem? – perguntou ele.
– Tudo bem e você?
– Pois é. Eu vi você na festa ontem. Estava muito gata.
– Obrigada.
– E o Rogério te chateou muito, aquele mala?
– Claro que não – risos – ele é uma gracinha.
– Uma gracinha? – gargalhadas – ele é um mala sem alça. É meu amigão, mas um coitado, muito sem graça.
– Não pareceu.
– É porque você ainda não conhece ele.
– Mas a noite foi muito agradável.
– Então espera para conhecer melhor – muitos risos.
Após o almoço e tantas detonações no Rogério, o atendente vem até a mesa e retira tudo menos o guardanapo embaixo da mão de Júlio André que o segura, e propositalmente bate com os dedos como se estivesse tocando piano com apenas uma mão querendo chamar a atenção de Luana para o pedaço de papel.
Ela pede licença, levanta-se, puxa o guardanapo tirando-o de Júlio André, escreve algo, vira-o para baixo, curva-se em uma pose bem sensual, solta um sorriso, faz biquinho, leva a mão até a boca e atira um beijo para ele. Dá três passos para trás, mais um sorriso, vira-se e sai rapidamente.  Ao vê-la partir, Júlio André feliz da vida, vira o guardanapo onde está escrito: Babaca.


9 comentários:

  1. rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsr
    Amei esse texto,amigo!!!!!!!!!
    Tem pessoas desse jeito mesmo, não percebem que estão sendo desagradáveis e se acham!!!!!!
    Bjus e bom final de semana,Claudio!
    http://www.elianedelacerda.com
    rrssrsrsrsrsrsrsrsrsr

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  2. Coitado dele, tem mulheres que são assim gosta de zombar, Claúdio abraços.
    Blog/ Fanpage

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  3. OI AMIGO
    Tem gente que não se toca acha que esta agradando e acaba pagando mico. Boa poatagem.
    Um começo de semana.Um abraço
    Ana

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  4. Oi Claudio,
    E como existem seres assim apelativos.
    Teve o que mereceu esse grande BaBaCa!
    Beijos com carinho
    Marilene

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  5. Adorei o conto,muito interessante.
    Mas fato chamou a atenção foi moça se chamar Luana.As mulheres esse nome tem personalidade forte e marcante.São muito determinadas e sabem o querem.
    Mas o equilíbrio é melhor para rapaz,nem romântico demais e nem de menos.Agora quanto babaca ninguém merece.Ela foi até educada com ele.

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