Chovia quando ela apontou no começo da rua com seu
guarda chuva azul. Cabelos escuros dançando na melodia do vento que atrevido
jogava pra cima a barra daquele vestido rodado, deixando à mostra as coxas
grossas e brancas como algodão. Passos apressados e pés que marcavam o ritmo
nos paralelepípedos úmidos. Ela era cor contra o chumbo do céu, calor contra o
frio do dia, era riso incontido em lábios ressecados pela solidão.
Esqueci-me do trago, do gole, perdi-me no tempo pra vê-la passar. Ela era uma
obra de arte desfilando num dia de chuva. Era a poesia que os poetas morriam a
procurar. Entoei versinhos infantis de quem não conhece as rimas ou as
palavras, mas sente n’alma a doçura do encanto e da simplicidade.
A rua estreita e torta virou Avenida pra Maria passar e ela passou. Passou
levando consigo meu olhar. Despertando desejos amenos e suspiros distraídos.
Foi breve como um raio de sol em meio à tempestade. Deixou uma esperança recém
criada até se encobrir novamente entre as nuvens do caminho. Como uma pipa
colorida vacilando na imensidão celeste. Virou a esquina deixando a imaginação
de um cheiro doce como as mangueiras que florescem no mês de setembro. Foi
embora quebrando a solidão dos dias tristes e plantando em meus lábios nos meus
lábios um pedido: que o vento a traga pra mim.
Show de sensualidade.
ResponderExcluirMaria apaixonada, Maria apaixonante.
Que lindo texto, e tem o meu nome :) .
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