sábado, 26 de setembro de 2015

Aventuras em Salvador

A maioria das pessoas fala que viajar a trabalho é ruim. Quando estas viagens se tornam uma rotina é ruim mesmo. 
Em 2008, eu já estava cansando de tanto viajar, mas fui abençoado.  Minha viagem a trabalho foi para Salvador.  Os Baianos dizem que Deus mora lá. É difícil falar algo a respeito porque o Nordeste todo é lindo, mas com certeza se Deus quiser morar no Brasil, Salvador está no páreo.
Eu nunca pensei que minha viagem apesar de ser para um lugar fascinante daria uma postagem no blogue. Entretanto, conversando com um ou outro sobre as façanhas que fiz na capital baiana, percebi que anos depois daria um texto.
Então, vamos lá.
A semana de trabalho antecedia o feriado de Tiradentes, 21 de abril, naquele ano caiu na segunda-feira. É claro que eu programei meu retorno para voltar neste dia. Como as diárias pagas pela empresa eram apenas até sexta, eu me convidei para ficar na casa do amigo Rogério.
Uma coisa para aprender sobre baiano é que não precisa de convite, basta dizer: “Tô indo”. 
Para não ficar na rotina sem graça do trabalho para o hotel, do hotel para o trabalho, eu resolvi me divertir e uma das noites sai a pé para conhecer Ondina.  Chegando lá vi o coco gelado a R$ 1,00.  O detalhe é que eu tinha me esquecido de levar dinheiro, aí ferrou. A caminhada era de uns 40 minutos, ida e volta, e eu não estava com menor disposição de voltar ao hotel para depois voltar a praia. Além disso, Salvador como toda grande capital brasileira não permite ficar dando bandeira a noite pelas ruas. No outro dia, eu voltei lá.  Tomei um coco e pedi outro dizendo que queria compensar o dia anterior. Então ouvi:
– Não faça isto meu rei. Podia ter pego ontem e pago hoje.
Fiquei lisonjeado com a confiança e aprendi outra coisa. Na Bahia todo mundo tem sangue nobre porque é rei ou rainha.
Seguindo com as minhas aventuras, naquela época, solterinho da Silva, perguntei para um taxista qual o ponto mais legal de paquera. Ele disse:
– Caranguejo Sergipe.
Adivinhem para onde fui na noite seguinte?
Lá, mal sentei, e já percebi uma moça me paquerando, então pensei: “Aqui é bom mesmo”.
Logo, ela me chamou para sua mesa onde estava com sua irmã e uma amiga. Começamos a conversar e vi que a moça era muito simpática, além de ser uma mulata muito bonita. Porém, lá pelas tantas ela resolveu falar uma coisa:
– Preciso te dizer uma coisa. Somos garotas de programa.
Confesso que fiquei surpreso, mas não me abalei, pois não sou preconceituoso e a moça era legal. É claro que eu já não me sentia mais um Gianecchini, pois a paquera virou um negócio comercial. Só que ela se insinuou ainda mais e deu o preço:
– São R$ 350.
– Eu sou funcionário e não o dono da empresa – falei.
Fiquei mais uns 15 minutos e avisei que ia embora. A irmã dela queria que eu pagasse a conta da mesa, mas eu paguei a minha parte.  Cai no golpe da paquera, mas não do da carteira.
No fim de semana minha aventura foi estritamente familiar. Rogério e sua adorável esposa Lu, apesar de serem mais novos que eu, me trataram como um filho. 
Eles têm duas filhas cada um. Eram duas adolescentes que já estão adultas, e duas pequenas gracinhas que já estão moças. Eles me levaram para conhecer os pontos famosos como Pelourinho, Farol da Barra, Mercado Modelo e claro o Elevador Lacerda. E na entrada do Mercado Modelo eu conheci uma cigana que me pediu uma moeda para fazer uma simpatia. É claro que eu sabia que a moeda ia sumir, e de fato sumiu. O que a esperta da cigana não esperava era me atacar novamente na saída do Mercado.
– Tu já me deves R$ 1,00 – eu disse.
– Eu não. Você está me confundindo – disse ela, e se mandou tão rápido quanto a moeda. 
Eu perdi R$ 1,00, mas me diverti muito. Logo, paguei para dar risadas. No domingo, a minha querida família soteropolitana tinha um aniversário de criança. É claro que eu não quis ir. Eu não me sentiria bem mesmo sabendo que em Salvador isto é bobagem, pois mesmo sendo desconhecido do dono da festa, o amigo do amigo é grande amigo.  No entanto, eu liguei para outro camarada, o Thiago, porque sabia que ia rolar um clássico. Para quem ama futebol como eu, estar em Salvador em dia de clássico e não assistir um Ba-Vi é a mesma coisa que não ir a Salvador. O Thiago me buscou e me levou para almoçar na sua casa como um típico anfitrião baiano. Chegando lá recebi um abraço caloroso e apertado de sua mãe como seu eu fosse um amigo de anos. E ela disse:
– Meu filho! Se tivesse avisado eu teria feito uma moqueca.
Eu olhei para o Thiago e disse: – Eu te mato – Sim, porque moqueca já é bom, feita por mãe então é bom demais. Ela fez um preparado com o que tinha, mesmo   assim ficou uma delícia.
A hora de ir para o estádio foi interessante. A família do Thiago é Vitória até morrer, e depois também. Uma moça, a Eliane, amiga da turma, que foi com a gente era torcedora do Bahia. Eu fiquei com pena dela. Era uma onda geral em cima da menina, inclusive eu, que aquelas alturas era Vitória desde pequeninho. Chegamos ao estádio e a posição do sol me comia uma perna. Eu, bobo do sul, só tinha passado protetor no rosto, orelhas e braços. Como eu estava de bermudas, aquele sol ia entrando. A minha sorte foi que no Nordeste o sol se põe cedo.
A festa pré-jogo foi muito bonita, tanto de uma torcida quanto da outra. Eu estava no meio da torcida do Vitória é claro, mas dava para ver a Bamor vibrante com o lindo colorido no outro lado do estádio.
O jogo começou e não demorou muito para o Bahia fazer um gol, e justamente na goleira onde estávamos. Alegria de um lado e tristeza do outro, o nosso. Ali, apenas Eliane com um sorriso escondido estava satisfeita. Ela estava louca para descontar a gozação que sofreu na ida para o estádio Barradão, mas não podia porque era minoria, ou melhor, solitária.
O Bahia fez mais dois gols ainda na mesma goleira, e o Vitória descontou para renovar a esperança do rubro-negro baiano. No segundo tempo, o Bahia fez mais um gol o que decretou a vazão do estádio pela torcida dona da casa. Inclusive nós. No caminho para o carro todos estavam de cabeça baixa pela derrota de 4x1 até que alguém ligou o rádio com a música nas alturas. Neste momento, o jogo ficou para trás e todos começaram a dançar na rua. Outra coisa que aprendi na Bahia: Alegria agora, agora e amanhã.
Bom, para os meus amigos do Vitória não ficarem zangado, no jogo de volta, o Nego, assim chamado, devolveu a humilhação por 3x0 e na outra semana acabou por ser campeão por critérios de desempate por ter feito um gol a mais. Outra coisa que só vi lá.
Na segunda, depois de curtir a praia com a minha família baiana, peguei o avião de volta para São Paulo, onde eu estava morando, e com certeza meu coração não voltou inteiro, pois um pedacinho dele ficou lá. 

6 comentários:

  1. Eu fui no ano passado para Salvador e gostei bastante! bjs
    http://ofantasticomundodairis.blogspot.com.br

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  2. Oi Claudio que legal!! Tem experiências que realmente só existem lá... É um sangue que corre em minhas veias; meu pai é baiano kkk.
    Então... para o meu marido uma agua de coco custa quase 10 reais coitado é de descendência alemã o pessoal olha para ele e já começa a negociação em euros kkk; infelizmente a prostituição apavora; preconceito e ciúmes é algo que indo para lá não dá para ter.
    Infelizmente acho que o povo ainda vive em muitas margens... em grandes hotéis, resorts e restaurantes e o que for chamado tudo de bom... nem seu se o baiano tem a chance de trabalho... claro que sempre alguem vai dizer que foi em tal lugar... e viu jente de lá trabalhando mas a bahia que conheço não é a mesma que o turista conhece.
    Sempre quando meu pai me pergunta o pq de eu não ir para lá eu digo que já cansei de ver pobreza...
    Mas mesmo com tantos problemas o povo acha uma maneira de ser feliz... é uma grande lição e tem jente que ainda vai pra índia kkk.
    Belo post; boas lembranças

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    1. Ô moça a pobreza lhe faz mal é? Ah bom... Sendo eu baiano não gostei muito do que a senhora escreveu não!

      Imagino, se seu pai não fosse baiano Hein?

      A senhora não pode generalizar, onde quer que vá em qualquer parte do mundo vai encontrar: pobreza, prostituição, roubo. violência etc. etc!

      Outra coisa, ninguém foi cobrar 10 reais num coco! Saiba que a Bahia é a maior produtora de coco do Brasil, um coco na feira custa R$0,50 e nas praias vão desde R$1,00 até R$ 3,00! Vender coco em Euros? A senhora tá sonhando!

      E para falar de nós baianos vá aprender português, viu?

      GENTE se escreve com"G" e não com "J" Bahia se escreve com letra maiúscula sabe o que é isso? Bahia!

      O Sibarita

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  3. Meu caro Claudio! Li atentamente seu texto, na qualidade de soteropolitano da gema como dizemos aqui.

    Bom, você fala em mulata, na Bahia, mulata ou mulato é preconceito, não existe isso de mulato ou mulata e se chamar de mulatinho ai bicho pega geral meu rei! kkkkkkk

    A Bahia tem a população mais negra do Brasil e a maior fora da mãe África, ou seja, somos mais de 90% de negões e negonas da população baiana, certo? kkkkkk

    Todos nós somos assumidos negros! kkkk Mulato é do tempo do império quando os escravos filhos de brancos com escrevas não se assumiam negras e o próprio império estimulava a cor mulata e ou parda, para segundo eles, senhores da escravidão separar o joio do trigo! Ou seja, saber se a pessoa era escrava ou não! Todos da cor negra, eram escravas a não ser que fossem alforriados! Já os mulatos, os pardos e os brancos não e se fosse branco então já andava com o chicote na mão! kkkkk

    Quero lhe dizer, é que aqui ou se é negro ou se é branco! Se chamar alguém de mulato creia-me é ofensa! Se for de mulatinho ai o caldo entorna, porque mulatinho aqui é feijão, sendo feijão vai para as panelas e ai todo mundo come, reparou o drama? kkkk Ai vc chamou o cara de viado! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk (nada contra, somos a favor da diversidade)

    A Bahia é hospitaleira, como vc mesmo afirma, tanto faz ir na capital quanto no interior do estado é a mesma coisa! Somos amigos e fazer amizade basta ser apresentado porque ai parece que já nos conhecemos de anos! kkkkkkkkkk

    O vendedor de coco falou a verdade, se vai comprar alguma coisa e o dinheiro não deu ou esqueceu, para nós, o que vale é amizade, leva-se o produto e paga-se no outro dia se for o caso. Nós aqui não temos essa de usura não! O que conta mesmo é amizade, sorrir, conta acaso, informar... isso é ser baiano! kkkkk

    Conheço o caranguejo de Sergipe, lá é frequentado por famílias e é claro que as piriguetes vão também para laçar algum desinformado! kkkkkkkkk Infelizmente, você se deparou com três donas moças! kkkkkkk Fazer o que? Você se saiu bem! kkkkkkk

    Sim, quando levamos uma pessoa de fora (fora na Bahia de outro lugar) para nossa casa somos hospitaleiros e queremos sempre que almocem com a gente e fazemos a muqueca! Claro, em casa o pessoal fica retado se não avisar antes da chegada do convidado para que se prepare os temperos! kkkkk

    Sobre o futebol, saiba que sou BAHHHÊÊÊA PORRRA! BI CAMPEÃO BRASILEIRO, UMA PORRADA DE VEZES CAMPEÃO BAIANO, OUTRAS TANTAS CAMPEÃO DO NORDESTE! A MAIOR TORCIDA O NORDESTE E A QUARTA TORCIDA BRASILEIRA, VIU? kkkkkkk

    O Vitória? Aliás, O VICETÓRIA, REPARE NO ESCUDO SE NÃO É ISSO VICE! kkkkk Nem adianta falar sobre o Vice, vice é vice! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Mas, gostei do seu texto por informar sobre esse jeito de set baiano! kkkkk

    No Sibarita se reparam tem muitos textos e poemas em baianês! kkkkkkk

    o Sibarita

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    1. Longe de mim querer ofender.
      Aqui Mulata é carinhoso.
      Quando a negra é bonita dizemos, "Que Mulata!"
      Abraço

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  4. Que massa! (é assim que eles falam neh rs!) Não sou fluente em baianês.
    Minha vó era baiana tenho vontade de conhecer a BAHIA deve ser uma boa experiencia.
    Bjussss!!!

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