sexta-feira, 10 de julho de 2015

O sonho de Toninho

Antônio Lima da Silva, o Toninho, tinha o sonho de todo o menino pobre ou rico, ser jogador de futebol.
O maior divertimento de Toninho era ir ao estádio do clube de sua cidade natal, o Esportivo Atlético Capinzinho, o seu time preferido, para ver o treinamento dos seus ídolos através do alambrado.
Sua família, de origem muito pobre, não tinha dinheiro para pagar as entradas dos jogos. Logo, os treinos era o mais próximo de uma partida de futebol profissional que ele conseguia chegar.
Nos dias de jogos, ele ouvia as transmissões por um radinho velho, única herança deixada pelo seu falecido pai. Não perdia um só comentário e procurava ler as notícias nos jornais da barbearia onde fazia bico de engraxate. Todo o dinheiro que ganhava destinava a sua mãe para ajudá-la nas despesas da casa. Ela trabalhava de empregada doméstica e lavava roupas para fora nas horas de folga.
Toninho participou de todos os campeonatos do Grupo Escolar Capinzinho, onde estudava. O time que com ele contava levava nítida vantagem nos campos de areião com goleiras feitas com madeira de demolição.
A equipe profissional de Capinzinho não era um time de ponta e nunca havia chegado a uma final de campeonato. Toninho nunca ligou para isto e ao contrário de seus amigos, que torciam para times da capital, se mantinha fiel ao seu clube do coração.
No ano em que Toninho completou 12 anos, o seu time se superou e conseguiu chegar a final.
Por sorteio, o segundo jogo da decisão foi em Capinzinho, e com isto a cidade ficou em festa.
Para alegrar o coração dos meninos do colégio municipal aconteceu um problema com o contrato dos gandulas. Assim, o presidente da federação resolveu inovar e convidou os alunos do Grupo Escolar para "gandular" o jogo.
Toninho se encheu de esperança. Era a chance de ver um jogo e, o que era melhor, de certa forma atuar nele. Achando que por ser o melhor jogador do colégio seria um dos escolhidos, mas não foi. O diretor da escola fez um sorteio e o Toninho não foi contemplado. Ele foi para casa chorando e no dia seguinte não compareceu à aula. O mundo tinha acabado para ele. Faltou inclusive a de Educação Física, a sua preferida.
Por se tratar de um aluno exemplar, o professor, desta matéria, Hélio Morato preocupado com sua ausência foi procurá-lo em casa. Sabendo da situação, decidiu comprar ingressos e levar o Toninho ao jogo, mas para o seu azar todos os ingressos estavam vendidos.
No sábado, um dia antes da final, um dos meninos sorteados não compareceu ao estádio. Era necessário orientar os novos gandulas como proceder no jogo. Precisavam de mais um. Como Morato era o responsável pelos alunos nesta tarefa e os acompanhava, imediatamente mandou chamar Toninho.
Da tristeza para a explosão de alegria em um só segundo quando Toninho recebeu a notícia de sua mãe.
– Filho! Ligaram do colégio para nossa vizinha. Querem você no estádio agora.
Com sua bicicletinha enferrujada de pneus remendados, que ganhou de um vizinho, ele pedalou rapidamente para o estádio. Chegando lá, já com outro ânimo, não conseguia esconder o sorriso, mas prestou muita atenção nas instruções.
Voltou para a casa radiante.
No dia da decisão a cidade estava em polvorosa. Carros buzinando, bandeiras espalhadas, gritos de guerra, foguetório e etc. Porém, ninguém, mas ninguém mesmo, era mais feliz que Toninho, que foi para o estádio como se fosse jogar na final.
E começou o jogo...
Jogo duro, o adversário Capital FC atual campeão e por seis vezes seguidas não dava mole.  Era uma pressão total. Ignoravam a presença da torcida de Capinzinho.
Toninho roía as unhas. Nunca tinha pensado que ver um jogo ao vivo seria tão sofrido.
Ainda no primeiro tempo o jogador adversário se atirou na área e o juiz deu pênalti.
– Ladrão! – Entre outras coisas gritavam todos, menos Toninho, que ficou paralisado. Foi bem na goleira onde tinha sido escalado para trabalhar. Que coisa, justamente ali, ter que ver bem de pertinho pela primeira vez o seu time do coração sofrer um gol. De maneira alguma, pensou ele. Toninho colocou as mãos sobre os olhos, mas quando o juiz apitou, ele abriu os dedos e viu a bola explodindo na trave de seu goleiro. A vibração foi geral e não foi diferente com Toninho que pulava de alegria.
E terminou o primeiro tempo com o placar em branco.
Os garotos invadiram o gramado para a tradicional batidinha de bola dos gandulas e com show de Toninho. A torcida vibrava com a graça e a ginga daquele moleque que entortava os colegas com seus dribles.
E começou o segundo tempo...
De novo o Capital FC pressionando, mas desta vez Toninho via de longe. Ele permaneceu na mesma goleira e continuava a roer as unhas, pois parecia pior por estar mais distante.
A coisa estava feia até quando Janjão experiente atacante do time de Capinzinho cabeceou uma bola despretensiosamente e ela morreu no fundo do gol do Capital. A torcida explodiu e mais uma vez Toninho ficou apático, mas desta vez de emoção. A bola estava ali dentro do gol, ele podia tocá-la, mas não como durante o jogo quando era simples reposição de bola. Era a primeira vez que ele via um gol do seu time ao vivo. Até então, somente os replays na televisão da barbearia.
O time adversário continuava a pressionar. Agora lhe bastava o empate. O jogo sem gols da primeira partida da decisão lhe deu esta vantagem. Então, veio o contra-ataque e de novo Janjão, desta vez com os pés, empurrou a bola para dentro do gol. Foi a glória. A torcida veio abaixo e Toninho contaminado pela euforia virava cambalhotas.  A partir daí só deu Atlético Capinzinho, e o terceiro gol veio numa cobrança de falta no finalzinho por Dedé Batata, o ala esquerdo.
Nem o gol de honra dos adversários abalou Toninho e a torcida da cidade, o grito era um só: – É campeão!
Toninho nem ficou na festa que tomou conta da cidade. Para ele a missão estava cumprida e um sonho realizado. Ele foi para casa, deitou-se e ficou sonhando novamente com o futuro que em vez de estar do lado de fora do gramado, ser ele o responsável pelos gols que deram o título para seu time.

3 comentários:

  1. Uma feliz e bela noite com um maravilhoso fim de semana..

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  2. OI CLAUDIO!
    UM BELO CONTO COM UMA HISTÓRIA QUE, CREIO EU, DEVE FAZER PARTE DO SONHO DE MUITOS MENINOS.
    ABRÇS
    -http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  3. Bom dia Claudio.
    Que lindo conto de um menino com o sonho realizado, uma feliz semana. Beijos.

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