Antônio
Lima da Silva, o Toninho, tinha o sonho de todo o menino pobre ou rico, ser
jogador de futebol.
O
maior divertimento de Toninho era ir ao estádio do clube de sua cidade natal, o
Esportivo Atlético Capinzinho, o seu time preferido, para ver o treinamento dos
seus ídolos através do alambrado.
Sua
família, de origem muito pobre, não tinha dinheiro para pagar as entradas dos
jogos. Logo, os treinos era o mais próximo de uma partida de futebol
profissional que ele conseguia chegar.
Nos
dias de jogos, ele ouvia as transmissões por um radinho velho, única herança
deixada pelo seu falecido pai. Não perdia um só comentário e procurava ler as
notícias nos jornais da barbearia onde fazia bico de engraxate. Todo o dinheiro
que ganhava destinava a sua mãe para ajudá-la nas despesas da casa. Ela
trabalhava de empregada doméstica e lavava roupas para fora nas horas de folga.
Toninho
participou de todos os campeonatos do Grupo Escolar Capinzinho, onde estudava.
O time que com ele contava levava nítida vantagem nos campos de areião com
goleiras feitas com madeira de demolição.
A
equipe profissional de Capinzinho não era um time de ponta e nunca havia
chegado a uma final de campeonato. Toninho nunca ligou para isto e ao contrário
de seus amigos, que torciam para times da capital, se mantinha fiel ao seu
clube do coração.
No
ano em que Toninho completou 12 anos, o seu time se superou e conseguiu chegar
a final.
Por
sorteio, o segundo jogo da decisão foi em Capinzinho, e com isto a cidade ficou
em festa.
Para
alegrar o coração dos meninos do colégio municipal aconteceu um problema com o
contrato dos gandulas. Assim, o presidente da federação resolveu inovar e
convidou os alunos do Grupo Escolar para "gandular" o jogo.
Toninho
se encheu de esperança. Era a chance de ver um jogo e, o que era melhor, de
certa forma atuar nele. Achando que por ser o melhor jogador do colégio seria
um dos escolhidos, mas não foi. O diretor da escola fez um sorteio e o Toninho
não foi contemplado. Ele foi para casa chorando e no dia seguinte não
compareceu à aula. O mundo tinha acabado para ele. Faltou inclusive a de
Educação Física, a sua preferida.
Por
se tratar de um aluno exemplar, o professor, desta matéria, Hélio Morato
preocupado com sua ausência foi procurá-lo em casa. Sabendo da situação,
decidiu comprar ingressos e levar o Toninho ao jogo, mas para o seu azar todos
os ingressos estavam vendidos.
No sábado,
um dia antes da final, um dos meninos sorteados não compareceu ao estádio. Era
necessário orientar os novos gandulas como proceder no jogo. Precisavam de mais
um. Como Morato era o responsável pelos alunos nesta tarefa e os acompanhava,
imediatamente mandou chamar Toninho.
Da
tristeza para a explosão de alegria em um só segundo quando Toninho recebeu a
notícia de sua mãe.
– Filho!
Ligaram do colégio para nossa vizinha. Querem você no estádio agora.
Com
sua bicicletinha enferrujada de pneus remendados, que ganhou de um vizinho, ele
pedalou rapidamente para o estádio. Chegando lá, já com outro ânimo, não
conseguia esconder o sorriso, mas prestou muita atenção nas instruções.
Voltou
para a casa radiante.
No
dia da decisão a cidade estava em polvorosa. Carros buzinando, bandeiras
espalhadas, gritos de guerra, foguetório e etc. Porém, ninguém, mas ninguém
mesmo, era mais feliz que Toninho, que foi para o estádio como se fosse jogar
na final.
E
começou o jogo...
Jogo
duro, o adversário Capital FC atual campeão e por seis vezes seguidas não dava
mole. Era uma pressão total. Ignoravam a
presença da torcida de Capinzinho.
Toninho
roía as unhas. Nunca tinha pensado que ver um jogo ao vivo seria tão sofrido.
Ainda
no primeiro tempo o jogador adversário se atirou na área e o juiz deu pênalti.
– Ladrão!
– Entre outras coisas gritavam todos, menos Toninho, que ficou paralisado. Foi
bem na goleira onde tinha sido escalado para trabalhar. Que coisa, justamente
ali, ter que ver bem de pertinho pela primeira vez o seu time do coração sofrer
um gol. De maneira alguma, pensou ele. Toninho colocou as mãos sobre os olhos,
mas quando o juiz apitou, ele abriu os dedos e viu a bola explodindo na trave
de seu goleiro. A vibração foi geral e não foi diferente com Toninho que pulava
de alegria.
E
terminou o primeiro tempo com o placar em branco.
Os
garotos invadiram o gramado para a tradicional batidinha de bola dos gandulas e
com show de Toninho. A torcida vibrava com a graça e a ginga daquele moleque
que entortava os colegas com seus dribles.
E
começou o segundo tempo...
De
novo o Capital FC pressionando, mas desta vez Toninho via de longe. Ele
permaneceu na mesma goleira e continuava a roer as unhas, pois parecia pior por
estar mais distante.
A
coisa estava feia até quando Janjão experiente atacante do time de Capinzinho
cabeceou uma bola despretensiosamente e ela morreu no fundo do gol do Capital.
A torcida explodiu e mais uma vez Toninho ficou apático, mas desta vez de
emoção. A bola estava ali dentro do gol, ele podia tocá-la, mas não como
durante o jogo quando era simples reposição de bola. Era a primeira vez que ele
via um gol do seu time ao vivo. Até então, somente os replays na televisão da
barbearia.
O
time adversário continuava a pressionar. Agora lhe bastava o empate. O jogo sem
gols da primeira partida da decisão lhe deu esta vantagem. Então, veio o
contra-ataque e de novo Janjão, desta vez com os pés, empurrou a bola para
dentro do gol. Foi a glória. A torcida veio abaixo e Toninho contaminado pela
euforia virava cambalhotas. A partir daí
só deu Atlético Capinzinho, e o terceiro gol veio numa cobrança de falta no
finalzinho por Dedé Batata, o ala esquerdo.
Nem
o gol de honra dos adversários abalou Toninho e a torcida da cidade, o grito
era um só: – É campeão!
Toninho
nem ficou na festa que tomou conta da cidade. Para ele a missão estava cumprida
e um sonho realizado. Ele foi para casa, deitou-se e ficou sonhando novamente
com o futuro que em vez de estar do lado de fora do gramado, ser ele o
responsável pelos gols que deram o título para seu time.
Uma feliz e bela noite com um maravilhoso fim de semana..
ResponderExcluirOI CLAUDIO!
ResponderExcluirUM BELO CONTO COM UMA HISTÓRIA QUE, CREIO EU, DEVE FAZER PARTE DO SONHO DE MUITOS MENINOS.
ABRÇS
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Bom dia Claudio.
ResponderExcluirQue lindo conto de um menino com o sonho realizado, uma feliz semana. Beijos.